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Quem vê a mulher que sou hoje muitas vezes não imagina que autoestima ou confiança eram, até pouco tempo atrás, coisas que eu desconhecia completamente. Foi um longo processo até aqui – neste lugar onde sou livre pra apenas ser – e esse processo continua, acho que vai continuar eternamente. Não digo isso pra desanimar ninguém. Muito pelo contrário, hoje sei que abraçar nossa vulnerabilidade só nos torna mais fortes e deixa tudo mais leve!

Quando a quarentena que estamos vivenciando começou, logo no primeiro dia já recebi vídeos e memes que previam a grande tragédia humana. Não, a preocupação não era o Covid-19, era o inimigo maior do homem (e da mulher então, nem se fala!): o ganho de peso.

Eu, que tive o privilégio de entrar pro time das gordas já na vida adulta e cercada de mulheres conscientes e empoderadas, que me ensinaram desde cedo que era possível ser gorda e ter autoestima (coisa que mesmo magra nunca havia conseguido), caí na cilada de achar um daqueles vídeos super engraçado e encaminhar num grupo de WhatsApp. Mesmo sem parar pra pensar de forma consciente no que eu havia feito, me veio em seguida uma sensação péssima. Me senti como um ratinho que se deixou encantar pela criatividade da ratoeira.

“Ah, mas que mal tem? O vídeo é tão engraçado! São apenas duas amigas com corpos diferentes que resolveram vestir a mesma roupa e filmar algo divertido!”. Sério? Eu pensei mesmo que um vídeo que mostra uma pessoa engordar absurdamente em pouquíssimo tempo, devido à compulsão alimentar que o isolamento social ocasionaria, não poderia fazer mal nenhum a ninguém? Pois ali eu comecei, sem perceber, a permitir que o verdadeiro inimigo voltasse a assombrar os meus dias. Mesmo tendo espaços em que discuto pautas como o Plus Talks ou meu perfil pessoal Moda com Verdade de Consultoria de Imagem, caí nessa armadilha.

A sensação constante de culpa por não fazer exercícios (e aqui o problema não são os exercícios, mas a culpa), a demonização da comida, a insatisfação com o corpo… tudo isso se fez presente nas minhas primeiras semanas de quarentena. Porque sim, brincadeiras, memes e vídeos, aparentemente ingênuos e engraçados, são gatilho certo pra quem passou a vida (independente do tamanho de corpo que tinha) achando que não conseguiria ser feliz enquanto não alcançasse o corpo “ideal”.


Gordofobia Estrutural em nós


E que ideal é esse que adoece a nossa alma? Que ideal é esse, que nos priva de momentos felizes? Que ideal é esse, que nos afasta das pessoas? Negar que a pressão estética e a gordofobia estrutural são problemas reais e afetam de forma negativa quase toda a população é de uma canalhice ímpar. Mas, ao mesmo tempo, de uma naturalidade assustadora. Quem nunca elogiou uma pessoa que emagreceu (como se magro fosse elogio)? Ou se lamentou por ter feito “gordice” (como se só – e todas – as pessoas gordas comessem compulsivamente)? Ou, ainda, disse a alguém “ah, mas você não é gorda” (como se gorda fosse palavrão)?


Por sorte, e graças ao processo de construção de autoestima e autoconfiança que citei lá no início, não me perdi nessa armadilha da pressão estética redobrada na quarentena. Percebendo os primeiros sintomas, fui logo tratando de resgatar dentro de mim tudo o que me conecta ao meu amor próprio. Pensamentos construtivos, escolhas inteligentes, olhar generoso e outras estratégias que me trazem de volta a mim, à minha essência, livre de padrões e julgamentos de um mundo ao qual não interessa que estejamos plenas.

Em vez de dar ouvidos às pressões externas, resolvi continuar no meu processo de amar tudo que tenho de bom e acolher o que não é tão bom assim. Coisas simples como colocar um look legal ou me fotografar para me ver por outros ângulos voltaram a fazer parte da minha rotina. Porque o poder de me amar é só meu e o contrário só é uma possibilidade quando eu me negligencio e delego esse poder aos outros.

(Confira o Ensaio Fotográfico da Samara na Drix clicando aqui e veja o empoderamento feminino contra a Gordofobia que alcançou alguns dos maiores cliques e curtidas deste site)


Texto: Samara Valamiel

Consultora de Imagem – Moda com Verdade

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